terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Laurie Calhoun, "A Mensagem Tácita do Terrorismo" (Parte II)

A ideia de que a aniquilação da vida humana é algo moralmente permissível ou mesmo obrigatório, materializa-se em duas práticas sociais: a execução de criminosos e a manutenção das instituições militares. Isto sugere que existem duas vias distintas para as suas acções; ou tentam concretizar uma “justiça vigilante” ou lutam “guerras justas”. Uma vez que as suas vítimas são quase sempre não-combatentes, as acções terroristas assemelham-se mais a actos de guerra do que a actos vigilantes. Há seguramente assassinos que não vêem os seus crimes neste sentido, ainda que não possuam qualquer agenda política ou missão moral. Infelizmente, a tendência dos governos para misturar terroristas com criminosos comuns (sem agendas políticas) encobre a semelhança entre as acções violentas de grupos facciosos e as de nações formais.
As tentativas para identificar os “terroristas” apelando ao que estas pessoas de facto provocam, podem ser consideradas por alguns como tendo implicações embaraçosas. Por exemplo, a identificação do “terrorismo” com algo necessariamente ilegal conduz a problemas de interpretação do reino de terror imposto pelo III Reich na Alemanha Nazi e de outros regimes governamentais com má reputação. Alguém pode, então, propor uma base moral em vez de legal, por exemplo, ao descrever os “terroristas” como
actores ideológica e politicamente motivados, que matam ou ameaçam matar pessoas inocentes sem qualquer responsabilidade pelas injustiças sofridas pelos terroristas. Isso levaria a defender que qualquer nação envolvida em campanhas de bombardeamento que resultem na morte de crianças inocentes teria cometido actos de terrorismo. Muitas pessoas recuam ao serem confrontadas com esta aproximação entre nações e facções que recorrem ao uso da força, e insistem que, embora não seja possível uma definição precisa, podem ser enumerados exemplos de terrorismo, pelo que o terrorismo pode ser definido por exemplificação.
Os governos de nações democráticas condenam severamente os “terroristas”, mas quando se examinam cuidadosamente as suposições envolvidas em qualquer dessas posições e de acordo com as quais a guerra será por vezes justa, verifica-se que os terroristas, dadas as circunstâncias em que eles próprios estão envolvidos, recorrem às mesmas suposições para retirar as suas conclusões lógicas. Enquanto que as nações proíbem o uso mortífero da força por indivíduos e facções sub-nacionais, os ataques violentos a alvos estratégicos, podem ser, de facto, compreendidos como claramente aceitáveis pela racionalidade da “guerra justa”, pelo menos segundo a interpretação dos assassinos.
Na medida em que os grupos terroristas pequenos não podem esperar atacar com sucesso uma instituição militar formal, escolhem os seus alvos em função do impacto que podem ter.

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