segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Será o aborto moral? (II)

O anti-abortista afirma que a sua posição tem como base princípios morais amplamente aceites, como «É sempre profundamente errado prima facie tirar uma vida humana» ou «É sempre profundamente errado prima facie pôr fim à vida de um bebé». Esta abordagem é, no entanto, demasiado ampla uma vez que tem uma abrangência desmesurada. Por outro lado, o defensor da posição pró-escolha afirma que a sua posição tem como base determinados princípios morais plausíveis, como «Ser uma pessoa é aquilo que dá valor moral intrínseco a um indivíduo» ou «Só é profundamente errado prima facie tirar a vida de um membro da comunidade humana», que tendem, no entanto, a ser restritos, uma vez que têm uma abrangência insuficiente. Ao tentar corrigir os problemas da sua posição, o anti-abortista recorre ao conceito de ser humano, alterando o seu princípio para «É profundamente errado prima facie pôr fim à vida de um ser humano». Esta reformulação, apesar de evitar certas implicações, como a de ser errado pôr fim à existência de uma cultura de células cancerosas humanas, já que esta tem as propriedades de estar viva e de ser humana, não consegue mostrar que o feto é um ser humano (D. Marquis, 2005: p. 131).
Do mesmo modo, o defensor da posição pró-escolha enfrenta algumas dificuldades ao tentar remediar a sua posição, uma vez que, ao estender a definição de «pessoa» de modo a abranger os bebés e as crianças, está a tornar a sua estratégia tão arbitrária como uma estratégia anti-aborto que estenda a definição de «ser humano» de forma a abranger os fetos.
No entanto, não são apenas estes os problemas colocados a ambas as posições. O princípio dos defensores da posição pró-escolha «Só as pessoas têm o direito à vida» pode ser criticado devido à sua ambiguidade, uma vez que caso se entenda que o termo «pessoa» é definido por características psicológicas, o defensor da posição pró-escolha fica com o problema de explicar por que razão o conjunto de características psicológicas em causa tem importância moral. Se responder a este problema afirmando que não é precisa qualquer explicação, visto que nós atribuimos de facto importância moral às propriedades psicológicas em causa, o defensor anti-abortista responderá dizendo que nós damos importância moral às propriedades de estar vivo e de ser humano.
Os anti-abortistas vêem-se perante um problema semelhante. O princípio padrão “É profundamente errado
prima facie matar um ser humano” é também ele ambíguo. Interpretando «ser humano» como uma categoria biológica, o anti-abortista necessita de explicar por que razão uma categoria meramente biológica há-de ter importância moral. Por outro lado, se se entender que «ser humano» designa uma categoria moral, a afirmação de que o feto é um ser humano não pode ser premissa no argumento anti-aborto, pois é justamente isso que é preciso provar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, acho interessante analisarmos estas questões tão cheia de "tabus" sociais. Sou graduando de Filosofia e sempre que posso escrevo à respeito de tais temas. Gostei de sua colocação em frente ao aborto, porém acho que poderia ter publicado mais argumentos. Mas mesmo assim é ótimo ver que aos poucos o seres humanos começam a largar certas crenças. Até mais.

Vítor João Oliveira disse...

Caro Raffiusk,
obrigado pelo seu comentário. Lembro só que o texto não é meu. Foi elaborado por alguns alunos que tinham que analisar dois textos (um pró e outro contra a moralidade do aborto) e tomar posição respeitando um número de palavras indicado.
Gostaria ainda de acrescentar que os alunos têm 15 anos.
Abraço.