sábado, 8 de março de 2008

Philippa Foot, "Eutanásia" (Parte IV)

«Thomas Nagel procura contornar esta dificuldade sugerindo que a experiência é ela própria um bem que deve ser tido em consideração.

“... a vida merece ser vivida mesmo quando abundam experiências negativas, e as boas são tão escassas que não conseguem compensar por si só as primeiras. O reforço positivo acrescido deve surgir da experiência em si e não do seu conteúdo, seja ele qual for.”
[1]

Esta ideia não parece plausível, pois se a experiência por si só constitui um bem, é-o também quando é absolutamente má, tal como quando se é torturado até à morte. Como decidir sobre o valor a atribuir a esta experiência; e porquê considerá-la de todo?
Outros tentaram resolver o problema argumentando que é precisamente o desejo das pessoas pela vida que a torna um bem: se alguém deseja viver, então aquele que o ajuda a prolongar-lhe a vida, está a fazer-lhe bem. Todavia, poderia dar-se também o caso de alguém que estivesse agarrado ao desejo de viver em circunstâncias sobre as quais poderíamos afirmar com toda a convicção que seria melhor para ele que morresse, e em que o próprio também o admitisse. Referindo-se a essas mesmas condições nas quais uma bala seria mais piedosa, Panin escreve,

Gostaria de perpetuar as minhas observações respeitantes à ausência de suicídios no contexto de condições de sobrevivência extremas e rigorosas dos nossos campos de concentração. Quanto mais desesperante a vida se tornava, mais o prisioneiro parecia determinado a lutar por ela.”
[2]

Poderemos avançar uma explicação para isto, alegando que a esperança constitui a base para este desejo de prolongamento da sobrevivência durante os dias e meses de vida no campo. No entanto, não existe nada de ininteligível na ideia de uma pessoa se agarrar a esperança de vida apesar de conhecer o seu destino inevitável, o qual levaria qualquer um de bom coração a preferir a sua morte ao seu sofrimento.
O problema persiste e é difícil saber onde procurar a solução. Haverá uma ligação conceptual entre vida e bem? Porque a vida nem sempre é um bem, achamo-nos no direito de rejeitar esta ideia e de pensar que o facto de a vida ser geralmente um bem é uma contingência, tal como o é o facto de os legados serem geralmente um benefício, se é que o são. Porém não parece ser uma contingência a ideia de que salvar a vida a uma pessoa é usualmente um benefício para ela. O problema consiste em determinar onde reside essa ligação conceptual.»


[1] T. Nagel, “Death”, in J. Rachels, ed., Moral Problems (New York, 1971), p. 362.
[2] Panin, Solodgin, p. 85

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