domingo, 2 de novembro de 2008

Será o egoísmo psicológico plausível? Porquê?

Foi esta a questão que coloquei aos meus alunos. Deviam responder em 400 palavras tendo o manual apenas como fonte. Esta é a resposta da Ana Grifo:

«Para iniciar, é essencial definir o egoísmo psicológico como uma perspectiva segundo a qual agimos sempre unicamente em função daquilo que julgamos ser do nosso interesse, ou seja, tudo o que fazemos tem por trás o interesse próprio. Seguidamente, há a esclarecer que esta teoria é apenas descritiva sobre o nosso comportamento, e nada nos diz sobre como devemos agir. Trata-se, portanto, de uma teoria que nos mostra como realmente agimos, não sendo por isso teoria normativa.

O defensor do egoísmo psicológico acredita que nós, humanos, apenas realizamos acções que nos irão beneficiar de alguma forma, sendo essa a causa do acto voluntário, que se baseia nos nossos desejos. Este egoísta não admite a possibilidade da existência de actos altruístas, e invoca novamente o interesse próprio como motor daquilo que fazemos. Ele sabe que há pessoas que dedicam grande parte da sua vida a ajudar os outros e a fazer-lhes bem, abdicando de prazeres que contribuiriam para o seu bem-estar, mas afirma que essas pessoas só o fazem com vista a serem recompensadas pelos seus esforços (fama, reconhecimento, esperança de um lugar no Céu,... ). O egoísta psicológico também afirma que o altruísmo é uma ilusão, pois nunca realizamos acções genuinamente altruístas. Concluindo, defende que por obtermos prazer sempre que fazemos bem aos outros, só realizamos essas acções essa satisfação, logo, somos todos egoístas.

Para refutar estes argumentos, temos as críticas ao egoísmo psicológico, que acabam por ser muito mais consistentes que os argumentos a favor. O crítico desta teoria defende que mesmo que as pessoas se limitem a agir voluntariamente de acordo com os seus desejos, isso não quer dizer que todos os seus actos sejam egoístas. Além disso, também diz que o sentimento de prazer que experimentamos quando fazemos bem aos outros pode não ter sido a causa da acção, mas sim o seu efeito. Por outro lado, há ainda que chamar a atenção para o facto de haver uma certa confusão conceptual na defesa do egoísmo psicológico, já que esta teoria toma como sinónimos “interesse próprio” e “egoísta” e ainda “prazer” e “interesse próprio”. Por outras palavras e usando exemplos práticos, podemos dizer que lavar os dentes é uma acção motivada pelo nosso interesse próprio, mas daí não se segue que seja uma acção egoísta. Na mesma linha, fumar também não será uma acção egoísta, apesar de dar prazer a quem o faz. Mas há ainda a salientar que os motivos de uma acção nem sempre são os nossos desejos, pois também agimos por dever. Finalmente, por estarmos perante uma teoria que é sempre capaz de explicar as nossas acções segundo motivos egoístas, torna-a numa teoria irrefutável, só que uma teoria assim é vazia, pois se explica tudo, acaba por não ter qualquer utilidade.

Apesar do egoísmo psicológico ser uma teoria bastante atraente, sobretudo por ser uma teoria parcimoniosa, não é plausível. E será sempre ao defensor do egoísmo psicológico que cabe o ónus da prova, isto é, é ele que tem de provar que todas as acções humanas são motivadas pelo interesse próprio
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